Eu tenho pensado com frequência em algumas questões e hoje aproveitei o ensejo de uma publicação que vi no Instagram para escrever um pouco sobre isso.
Basicamente é sobre a nossa relação com o lazer e descanso.
Estamos vivendo a era da 'produtividade' e essa é uma premissa que se debruça sobre as nossas cabeças sem um pingo de compaixão. Principalmente para quem vive nas grandes metrópoles, isso é ainda pior: as pessoas estão sempre correndo para lá e para cá, correm porque não há tempo, é preciso acomodar dezenas de atividades naquelas poucas horas do dia.
As pessoas têm tantas coisas para fazer, que chegam a desejar que o dia tivesse mais horas do que tem para que pudessem 'dar conta de tudo'. Não vou me prolongar nos motivos para isso, pois todos já sabemos, mas basicamente se resume à necessidade das pessoas de sustentar a si e aos seus.
Se a pessoa em questão for uma mulher, pode acrescentar aí mais uma porção de atividades e 'obrigações' depois do expediente que lhes rende o pão de cada dia, não sobra tempo para mais nada.
Às vezes até sobra e é sobre esse tempo específico que eu dispenso algumas reflexões. Na teoria, após um dia de trabalho e após o término das atividades extras do dia, o suposto tempo livre deveria ser destinado ao lazer ou a, no mínimo, o descanso.
Mas as pessoas não conseguem. Sentem-se culpadas por não usarem aquele 'tempo livre' de forma 'produtiva', sentem-se culpadas por descansar. O mesmo acontece em relação aos seus passatempos, estudos, lazer...
Muitas pessoas são levadas a crer que, dispensar algum tempo para si apenas pela satisfação pessoal, é perda de tempo. E isso se agrava e se expande um pouco mais no que tange os passatempos: devem, no mínimo, serem rentáveis, então!
Quantas vezes ao expressarmos o desejo de fazer ou aprender algo, somos confrontados com a seguinte pergunta: "Isso dá dinheiro?". Estamos vivendo em uma época em que tudo precisa ser monetizado de alguma forma para não ser perda de tempo.
O destino de todas as coisas deve ser a rentabilidade, quando não a produtividade. E então nos damos conta que vivemos em um mundo em que devemos produzir, render e morrer. Do contrário, é tudo perda de tempo.
Aqui não falo sobre as pessoas que transformam um hobby em trabalho, seja por necessidade ou por vontade própria, mas sim sobre a pressão externa que todos sofremos para que tudo o que decidirmos fazer na vida tenha fins profissionais. Não havendo essa possibilidade ou desejo, tudo é considerado "perda de tempo".
Com isso vamos sufocando cada vez mais nossos sonhos, nossas alegrias e nossa satisfação pessoal. Quando foi que tudo ficou desse jeito?
Quando foi que descansar ou simplesmente fazer algo para se sentir feliz passou a ser considerado tempo perdido? Em que momento nos transformamos em máquinas?
A partir do momento em que me dei conta disso, passei a tentar em fugir desse ciclo, mas confesso que às vezes é exaustivo. Mas uma coisa eu sei: precisa existir mais verbos entre produzir, render e morrer e no que eu puder, conjugarei tantos quantos forem possíveis.